A derrota do PSDB em cargos majoritários nas eleições de domingo (3) forçará a sigla a repensar suas ações em Mato Grosso. A avaliação é do ex-senador Antero Paes de Barros, que, pela terceira vez consecutiva, sofre uma derrota nas urnas. Ele disputou o Governo do Estado e perdeu para Blairo Maggi, que se elegeu em 2002 e se reelegeu em 2006.
Além da disputa por uma das duas vagas no Senado, o PSDB também amargou a derrota ao Governo, com o ex-prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, que ficou em terceiro lugar. No contexto político, a legenda passa a ser considerada nanica.
Na disputa à Câmara Federal e à Assembleia Legislativa, o saldo também não foi considerado dos mais positivos. O objetivo dos tucanos era eleger, pelo menos,dois deputados federais e dois estaduais. Guilherme Maluf se reelegeu deputado estadual e Nilson Leitão ganhou uma vaga na Câmara.
"A nossa bancada estadual diminui. Sabíamos que isso poderia acontecer, mas queríamos, pelo menos, cinco ou seis eleitos e conseguimos quatro pela coligação com o DEM. É hora de repensar o partido", afirmou Antero, em entrevista ao MidiaNews.
Entre os motivos apontados pelo tucano para o fracasso da empreitada, estão a falta de recursos financeiros, já que o PSDB nacional teria prometido um valor que não foi repassado em sua totalidade, e ações tomadas de última hora.
"Os problemas políticos e estruturais não podem ser impedimentos para o partido. Houve uma falha na arrecadação do Wilson, por exemplo. Mas ninguém fez isso de forma planejada. Eu acho que houve uma pequena arrecadação", disse.
Nas últimas eleições, Antero ficou em quarto lugar, com 345.094 votos, o que corresponde a quase 12% dos votos. Para ele, essa foi uma eleição com candidatos fortes e qualificados.
Confira os principais trechos da entrevista com Antero Paes de Barros:
MídiaNews - Qual a avaliação do senhor a respeito da eleição?
Antero - Foi uma campanha bem feita. O problema é que não tivemos condições de fazer campanha de rua. Na questão do rádio e da televisão, nós sustentamos o debate, nós programamos o debate do Senado e introduzimos temas importantes, como a questão do aborto.
Perder a eleição é uma coisa que a gente sabia desde o início que podia acontecer. Na eleição, tinha candidatos muito fortes e ela era uma eleição muito qualificada, mas acho que fizemos bons debates, acho que produzimos um bom material. Ficamos com uma campanha de alto nível, sem agressão nenhuma. E levamos a debate a questão do aborto. Eu acha que, pelo menos isso, ajudou a salvar algumas vidas.
Considero a campanha positiva. Já tive oportunidade de telefonar para os dois eleitos, Blairo Maggi (PR) e Pedro Taques (PDT), e cumprimentei também o governador Silval Barbosa (PMDB).
MidiaNews - Há uma tese de que, se essa questão do aborto prejudicou o Carlos Abicalil (PT), também teria lhe prejudicado. O senhor concorda com isso?
Antero - Não concordo. O problema é o seguinte: se a própria Justiça Eleitoral fez um VT dizendo "é importante você conhecer o passado do seu candidato", é importante saber que o Abicalil assinou um recurso que colocava novamente na pauta da Câmara dos Deputados a votação do projeto de lei do aborto.
O projeto de lei tentando aprovar o aborto no Brasil já havia sido negado pela Câmara dos Deputados. Ele só continuou na pauta porque o Abicalil foi um dos que assinaram. Ele negar isso é um absurdo. Eu não sei em que isso teria me prejudicado, a população brasileira é contrária ao aborto. Acho que as pessoas têm que assumir o que pensam, e não fazer uma coisa no parlamento e fazer outra na campanha eleitoral. Eu não consigo fazer assim.
MidiaNews - O tema do aborto não foi tratado só aqui em Mato Grosso. Em Brasília, na disputa pela Presidência, ele também foi discutido. Foi uma coincidência ou houve algo combinado?
Antero - Aqui em Mato Grosso, foi uma iniciativa minha, pela minha formação.
MidiaNews - Mas foi um tema recorrente e polêmico na campanha presidencial...
Antero - A Dilma está tentando desmentir o "indesmentível". Eles mandaram um texto para o Congresso Nacional, onde eles defendem a legalização do aborto até o nono mês da gravidez. Eu não sei se a Dilma tem uma insensibilidade tão grande, eu não sei em nome do que eles defendem isso.
MidiaNews - Mas, o senhor influenciou em Brasília a campanha?
Antero - Lá [em Brasília], eu achei que eles não fizeram como deveriam ter feito. Deveriam ter feito como fez aqui. "Olha, a Dilma é a favor do aborto. Ela assinou a mensagem apoiando o aborto". O Lula negar que não leu, que não sabia, é até possível, porque ele nunca sabe nada, mas a Dilma não. A Casa Civil é que prepara a mensagem do presidente. Eu fui secretário na Casa Civil, quem preparava as mensagens para o governador Dante para ir para a Assembleia era eu, quem prepara a mensagem para ir para o Congresso Nacional é a ministra da Casa Civil, é a Dilma.
Então, ela também preparou as mensagens que afetam o direito de propriedade, que afeta liberdade de imprensa, que cria uma comissão para fiscalizar jornalista, que estabelece classificação dos veículos de comunicação, tudo isso ela preparou.
MidiaNews - E sobre a eleição do Pedro Taques?
Antero - Acho que a subida do Pedro Taques nas pesquisas e agora no resultado da eleição, foi uma disputa conceitual. Ele defendeu uma tese conceitual de acabar com a imunidade parlamentar, que já nem existe, de combater a corrupção em cima do que ele fez aqui com a questão do Arcanjo. Mas nós fizemos um combate à corrupção a nível nacional quando fui senador. Eu, sinceramente, queria ter ganhado a eleição, mas achei boa a eleição do Pedro, ele é um homem de bem e vai fazer um bom mandato.
MidiaNews - Sua eleição foi bem expressiva. Isso significa que você volta de vez para a vida política? Como o senhor analisa isso?
Antero - Eu não vou fazer análise agora das eleições, só vou fazer depois do segundo turno. Nesse momento, minha preocupação maior é conquistar votos para o Serra. Eu conversei com o Percival Muniz e fiquei satisfeito com a disposição dele em assumir a coordenação da campanha do Serra na região Sul do Estado. Ele é uma pessoa muito articulada, muito habilidosa.
O Pedro Taques também foi convidado para ir para Dilma e não foi. Eu acho que, nesse ponto, inclusive, o Abicalil prejudicou bastante a Dilma em Mato Grosso, porque ele fez a Dilma se comprometer exclusivamente com ele e o Blairo, ignorando os outros partidos que era do arco de aliança dela. E isso abriu um leque de oportunidades para que o Mauro Mendes e Pedro Taques pudessem apoiar a candidatura do Serra.
MidiaNews - E como estão agora os preparativos para o segundo turno em Mato Grosso?
Antero - Estamos definindo e eu acredito que no PSDB quem coordenará aqui seja a Thelma, como presidente do partido, e o Nilson, como deputado eleito. Acho que o Júlio e o Jaime têm que assumir pelo DEM uma coordenação. Temos que atrair pessoas que não são do nosso arco de aliança, como conseguimos um contato eficiente com o Percival. Acho importante contar com o apoio do Pedro Taques e do Mauro Mendes e estamos fazendo contato com sindicatos e entidades religiosas.
MidiaNews - E sua análise sobre o PSDB em Mato Grosso?
Antero - Acho que o resultado foi muito ruim para o partido em Mato Grosso. Nós mantivemos um deputado federal, mas eu considero ruim porque a expectativa era fazer dois e a coligação, três deputados. E dos três, o PSDB faria dois. Mas, teve muito voto nulo e isso acabou diminuindo a votação de todos os candidatos.
Perdemos o mandato da Thelma e ganhamos do Nilson, ficando um a um, porém diminui a bancada estadual; na última elegemos dois, a Chica e o Guilherme. Numa bancada de quatro, com o DEM. Sabíamos que isso poderia acontecer, mas queríamos cinco a seis eleitos. Infelizmente, não deu, fizemos só quatro deputados. Eu acho que essa é hora de repensar o partido, do partido não fazer mais improvisações. E também tivemos uma candidatura a governador que definhou no processo eleitoral por uma série de problemas. Problemas políticos e estruturais.
MidiaNews - O senhor não acha que esse desempenho do Wilson Santos não pode, de certa maneira, esvaziar o partido ou significar uma implosão definitiva do partido?
Antero - Não, o partido é mais forte que isso. O desempenho do Wilson Santos foi ruim por uma série de fatores, que eu não vou analisar agora. Até pela questão estrutural mesmo, de campanha, a ausência de campanha. Isso tudo podia ter sido previsto.
MídiaNews - Houve uma falta de comprometimento com o PSDB Nacional?
Antero - Não, falam que ajudou mais o Antero, mas ele mandou mais dinheiro para o Wilson Santos. Eu tenho certeza absoluta que o PSDB nacional tem o maior respeito por mim. O que acontece é que houve uma falta de arrecadação nacional. E também houve uma falha na arrecadação do Wilson. Ninguém fez isso planejadamente: "Ah, agora vamos prejudicar o PSDB no Brasil inteiro". Eu acho que houve uma pequena arrecadação, foi isso.
Eu defendo que os eleitos trabalhem no sentido de proibir a contratação, por exemplo, de cabos eleitorais, de pessoas pra distribuir santinho. Tem que proibir isso, deixar a campanha só no rádio, televisão e internet. Você acaba tendo que contratar. Nós não tivemos mais que 300 pessoas contratadas.
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