sexta-feira, 15 de março de 2013

Logística: integrar é a solução


Por Rui Prado*

Estamos às vésperas de concluir mais uma safra de soja em Mato Grosso. Embora isso não seja novidade para quem vive da produção ou para os gestores públicos, ainda escuto versões responsabilizando as chuvas ou o crescimento da produção pela situação precária das estradas e dos terminais de escoamento da produção. Será melhor eu pedir mais paciência para nós, cidadãos, que pagamos cada vez mais impostos, ou a eterna indignação. Escolho a última opção. Não podemos ficar quietos diante desse descaso.

O Estado precisa eleger prioridades. Ele precisa decidir por investimentos que multipliquem as riquezas de Mato Grosso, sejam elas oriundas da produção agropecuária, da indústria ou do comércio. Ele precisa optar por investimentos que melhorem a segurança e a qualidade de vida das pessoas. E aqui há um ponto convergente para tudo o que estou falando: infraestrutura e logística.

As filas de caminhões parados nas principais rotas de escoamento da produção do país, como vimos em diversos veículos de comunicação nas últimas semanas, trazem prejuízos para a sociedade. Comprometem a qualidade das mercadorias, diminuem a receita do setor produtivo, elevam o frete, encarecem os produtos para o consumidor final, desperdiçam o tempo das pessoas e provocam acidentes graves. O nosso sistema circulatório está em falência e isso pode comprometer toda a saúde da sociedade.

A 16ª edição da Pesquisa de Rodovias de 2012, publicada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), revelou que 84,1% dos 4.462 km de extensão de rodovias avaliadas em Mato Grosso estão em situação regular, ruim ou péssima. Absolutamente nenhum trecho foi classificado como “ótimo”. Até quando teremos que continuar nessa situação? Como devemos agir?

Uma das soluções em que acredito são as parcerias público-privadas. Elas podem resolver os problemas da malha viária em Mato Grosso trazendo os investimentos necessários e aplicando-os adequadamente. Outra estratégia interessantíssima é a integração entre os modais de transporte (rodovias, ferrovias e hidrovias), com a finalidade de baratear os custos de produção, do frete e reduzir os impactos ambientais do nosso principal modal, o rodoviário.

É evidente que num estado como Mato Grosso – com área territorial de 903.366,1 km quadrados, o equivalente a 56,2% da região do Centro-Oeste e 10,6% da superfície brasileira –, continuaremos dependendo das rodovias. No entanto, temos condições de investir em outros modais para desafogar o trânsito de caminhões e carretas nas estradas e deixá-las mais seguras para os veículos de passeio.

Nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma forte integração entre esses três modais. As rodovias e ferrovias são construídas em paralelo, funcionando em sinergia, mesmo sendo competitivas entre si. Ganham os produtores, ao reduzir os custos, e a sociedade, ao adquirir produtos mais baratos. Mesmo os norte-americanos, cujo país é considerado potência econômica mundial, dependem do apoio do setor público para viabilizar as obras de infraestrutura de transportes. A iniciativa privada faz muito por lá, mas não consegue sozinha garantir a competitividade entre os modais.

Estamos no século 21, os produtores rurais utilizam as mais modernas tecnologias para colher a produção de grãos, Mato Grosso é o maior produtor de soja, milho e algodão do Brasil, possuímos o maior rebanho bovino do país. Temos feito nosso dever de casa da porteira para dentro, onde podemos atuar fortemente. O mesmo, infelizmente, não podemos dizer do Poder Público.

Transferir os eternos problemas das estradas – buracos, erros de projetos, falta de pavimentação e sinalização –, aos fenômenos da natureza (chuvas) que ocorrem todos os anos ou ao aumento da produção é, no mínimo, desrespeitar a inteligência do cidadão. Deixemos São Pedro descansar, as artérias do nosso Estado estão na UTI e precisam de tratamento urgente!

*Rui Prado é produtor rural e presidente do Sistema Famato (ruiprado@famato.org.br).

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